Muita gente esta criticando a postura de Mano Brown por ter aparecido em algumas cenas do clipe, mas muita gente esquece que o funk é uma música que esta nas periferias e faz parte da trilha sonora das quebradas e favelas. Não tem como negar!
Não é novidade nenhuma que Mano Brown apoia o funk periférico, na verdade Brown não apoia apenas o funk e sim todos os artistas e músicos da periferia. Ele nunca negou isso! Inclusive no ano passado, durante apresentações do Racionais MC’s foram realizados protestos contra a morte de MCs de funk que foram mortos covardemente pela polícia.
“O errado é os que
não são do funk não protestar pelos os que são do funk. Tem que protestar por
eles e eu já ando falando em alguns lugares também. A gente sabe que na verdade
ali é racismo puro, isso é racismo puro, porque nos anos 80 o rock falou o que
quis e pregou o sexo abertamente”, conclui Mano Brown.
A grande maioria dos MCs de funk são moradores de
periferia, que apesar da ostentação em algumas letras, estão rodeados de
miséria, violência e desigualdade. Eles estão sofrendo o preconceito,
discriminação e perseguição policial que o RAP sofreu lá trás.
“ É o mesmo povo,
é a mesma cor. Eles não estão diferenciando se canta funk, rap ou samba. É
favelado falando, eles não gostam”, lembra Brown.”Olha como a música da
periferia diversificou, o RAP diversificou, nasceu o funk paulista, tem o
estilo do Rio de Janeiro, tem o estilo do funk de São Paulo, que é um outro
estilo, inclusive hoje faz sucesso no Rio de Janeiro. Antes do RAP o Rio de
Janeiro não conhecia São Paulo, não sabia que tinha favela em São Paulo. Isso
eu ouço da boca deles lá, os caras achavam que em São Paulo todo mundo comia
pizza e era japonês. Então, de 88 pra cá são 24 anos, o mundo mudou muito, a
música tem que acompanhar a mente do jovem, tem que ir até a massa, até a mente
da massa.”
É errado e até perigoso algumas pessoas agirem da mesma maneira que os opressores agiram contra o RAP no passado, é errado pensar que favelado tem que ser ladrão, escravo ou rapper. O tempo passa, coisas novas surgem e não podemos fazer vista grossa com isso. Quando perguntamos para Mano Brown, sobre a atual cena do RAP, ele respondeu:
“Acho uma cena sincera, diversificada. É necessário
diversificar, é necessário que tenham vertentes, é necessário que os mais
antigos entendam os mais jovens, acolham eles e interajam. Não fechar as portas
como alguns antigos fizeram com a gente, porque choque de geração é uma coisa
ultrapassada, tem que acabar com isso. A gente tem que entender os jovens,
porque senão eles vão atropelar a gente. Ou entende ou será atropelado, porque
o novo é o novo, tem o Velho Testamento, tem o Novo Testamento. Quem tentou
embarrerar Jimi Hendrix se arrombou, quem tentou embarrerar Janis Joplin se
arrombou, tentaram embarrerar James Brown em São Paulo, se arrombaram. Como é
que embarrera o James Brown? Como é que você vai embarrerar o funk? Como é que
embarrera o mar? Não tem como, é o novo, cabe aos mais experientes entender e
interagir.”
Apesar de não ouvir funk, eu não posso tapar o sol com a
peneira, pois sou morador de periferia, não preciso sair para fora do portão
para perceber que são pessoas que vivem a mesma realidade que estão fazendo
estas músicas. Não vou usar da mesma arma que o playboy usou contra mim quando
comecei no RAP, não vou apedrejar e nem discriminar essa molecada que assim
como eu, viu na música uma válvula de escape.